Cirurgia túnel do carpo: tempo de afastamento pelo INSS

Resumo: O tempo de afastamento após cirurgia de túnel do carpo varia bastante — em muitos casos entre 1 a 3 meses, podendo ultrapassar dependendo da função exercida. É possível solicitar auxílio-doença se a incapacidade exceder 15 dias. Se a síndrome decorrer do trabalho, pode ser reconhecida como doença ocupacional (B-91), garantindo estabilidade de 12 meses após o retorno. Entenda como funciona essa logística com o INSS e seus direitos.

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O QUE É A SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO

Sintomas, diagnóstico e CID (G56.0)

A síndrome do túnel do carpo (CID G56.0) ocorre quando o nervo mediano é comprimido no punho, provocando:

  • Dor no punho, mão e dedos (especialmente polegar, indicador e médio)
  • Formigamento e dormência nas mãos, principalmente à noite
  • Fraqueza para segurar objetos
  • Perda de sensibilidade nos dedos afetados
  • Dificuldade para movimentos finos (abotoar roupa, segurar caneta)

O diagnóstico é confirmado por exame clínico (testes provocativos como sinal de Tinel e Phalen) e por exames complementares como eletroneuromiografia, que mede a condução nervosa e confirma a compressão do nervo mediano.

Relação com o trabalho: quando é doença ocupacional

Se houver evidências de que a síndrome decorre ou foi agravada pela atividade profissional, pode ser reconhecida como doença ocupacional. Situações comuns:

  • Movimentos repetitivos: Digitação, montagem de peças, operação de máquinas
  • Uso prolongado de punhos: Caixas de supermercado, músicos, dentistas
  • Carga manual constante: Carregamento, empacotamento
  • Postura inadequada: Trabalho com computador sem ergonomia adequada
  • Vibração: Operação de ferramentas vibratórias

Nesse caso, o INSS pode conceder o auxílio-doença na modalidade acidentária (B-91), com direito à estabilidade no emprego por 12 meses após retorno, conforme artigo 118 da Lei 8.213/91.

QUANDO A CIRURGIA É INDICADA

Indicações médicas para cirurgia

A cirurgia para descompressão do nervo mediano no túnel do carpo é indicada quando:

  • Tratamento conservador falhou: Uso de órtese (tala), fisioterapia, anti-inflamatórios e corticoides não melhoraram os sintomas após 3 a 6 meses
  • Sintomas graves: Dor intensa, perda significativa de força, atrofia muscular da mão
  • Perda de sensibilidade persistente: Dormência constante que prejudica atividades diárias
  • Eletroneuromiografia com alterações graves: Exame mostra compressão nervosa severa
  • Impacto na qualidade de vida: Dificuldade para trabalhar, dormir ou realizar tarefas básicas

Técnicas cirúrgicas e impacto na recuperação

A cirurgia pode ser feita por duas técnicas principais:

1. Cirurgia aberta (convencional):

  • Incisão de 3 a 5 cm na palma da mão
  • Visualização direta do ligamento carpal transverso
  • Recuperação mais lenta (6 a 12 semanas para atividades normais)
  • Cicatriz visível e sensibilidade local temporária

2. Cirurgia endoscópica:

  • Incisão menor (1 a 2 cm no punho)
  • Uso de câmera para visualizar estruturas
  • Recuperação mais rápida (4 a 8 semanas)
  • Menos dor pós-operatória e cicatriz menor

A resposta individual e o cuidado pós-operatório (repouso adequado, fisioterapia, evitar esforços) são decisivos para o tempo de recuperação e retorno ao trabalho.

TEMPO DE AFASTAMENTO ESTIMADO PELO INSS E MEDICINA

Recuperação típica pós-cirurgia

O período médio de recuperação após cirurgia do túnel do carpo varia conforme a técnica cirúrgica, gravidade do caso e tipo de trabalho exercido:

PeríodoAtividades PermitidasTipo de Trabalho
1 a 2 semanasRepouso absoluto, curativosTodos afastados
4 a 6 semanasAtividades leves sem esforçoTrabalho administrativo leve
2 a 3 mesesAtividades normais progressivasTrabalho moderado sem repetição
3 a 7 mesesRecuperação completa com fisioterapiaTrabalho pesado, repetitivo

Conclusão: A maioria dos casos permite retorno entre 1 a 3 meses para atividades normais. Trabalhos que exigem força manual, movimentos repetitivos ou uso intenso dos punhos podem necessitar de 5 a 7 meses para recuperação completa da sensibilidade e força.

Fatores que prolongam o afastamento

Diversos fatores podem estender o tempo de afastamento necessário:

  • Complicações pós-operatórias: Infecção, rigidez articular, aderências cicatriciais, síndrome dolorosa complexa regional
  • Retorno precoce ao trabalho: Voltar antes da recuperação adequada pode causar recidiva ou piorar o quadro
  • Ausência de fisioterapia: Falta de reabilitação adequada prejudica recuperação da força e mobilidade
  • Demanda física alta no trabalho: Profissões que exigem movimentos repetitivos, força manual ou uso constante dos punhos
  • Comorbidades: Diabetes (cicatrização mais lenta), artrite reumatoide, tendinites associadas
  • Idade avançada: Recuperação naturalmente mais lenta em pessoas acima de 50-60 anos
  • Sequelas permanentes: Perda parcial de sensibilidade ou força que não se recupera completamente

AUXÍLIO-DOENÇA (BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA) NO INSS

Requisitos para concessão

Para que o INSS conceda o benefício por incapacidade temporária (auxílio-doença), é necessário:

  • Incapacidade temporária: Impossibilidade de trabalhar por mais de 15 dias consecutivos
  • Qualidade de segurado: Estar contribuindo para o INSS ou dentro do período de graça (período em que mantém direitos mesmo sem contribuir)
  • Carência mínima: Em regra, 12 contribuições mensais. Exceção: se a síndrome for reconhecida como acidente de trabalho ou doença ocupacional, não há carência
  • Prova médica: Laudos, exames, relatórios médicos e atestados que demonstrem a incapacidade
  • Perícia médica do INSS: Aprovação pelo perito médico federal

Como requerer no Meu INSS

Passo a passo para solicitar o benefício:

  1. 1. Acesse o Meu INSS: Baixe o aplicativo (Android/iOS) ou acesse meu.inss.gov.br
  2. 2. Faça login: Use CPF e senha gov.br
  3. 3. Selecione: "Benefício por Incapacidade Temporária" (antigo auxílio-doença)
  4. 4. Escolha Atestmed: Opção de análise documental sem perícia presencial (se disponível)
  5. 5. Anexe documentos: Laudo cirúrgico, relatórios médicos, exames, atestados
  6. 6. Agende perícia: Se necessário, agende perícia médica presencial
  7. 7. Acompanhe o processo: Pelo app, verifique status e eventuais exigências

Documentação essencial para o pedido

  • ✓ Laudo cirúrgico: Relatório do procedimento realizado, técnica utilizada, data da cirurgia
  • ✓ Relatório do ortopedista/neurocirurgião: Descrição do quadro clínico, período de afastamento necessário, restrições funcionais
  • ✓ Eletroneuromiografia: Exame pré-operatório que comprova a compressão do nervo mediano
  • ✓ Atestados médicos: De todos os períodos de afastamento
  • ✓ Relatórios de evolução: Consultas de acompanhamento pós-operatório
  • ✓ Relatório de fisioterapia: Se estiver em reabilitação
  • ✓ Descrição da função exercida: Documento explicando as atividades do trabalho e por que a cirurgia impede sua realização
  • ✓ PPP (se doença ocupacional): Perfil Profissiográfico Previdenciário demonstrando exposição a fatores de risco

AUXÍLIO-DOENÇA COMUM (B-31) VS ACIDENTÁRIO (B-91)

Diferença entre as modalidades

A classificação do benefício como B-31 (previdenciário/comum) ou B-91 (acidentário) faz diferença significativa nos seus direitos:

CaracterísticaB-31 (Comum)B-91 (Acidentário)
NaturezaDoença comumDoença ocupacional/acidente trabalho
Carência12 contribuiçõesSem carência
Estabilidade❌ Não✅ 12 meses após retorno
FGTSSuspensoMantido
CATNão obrigatóriaObrigatória

Como comprovar nexo com o trabalho (B-91)

Para que a síndrome do túnel do carpo seja reconhecida como doença ocupacional (B-91), você deve comprovar o nexo causal com o trabalho:

  • CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho): Documento que a empresa deve emitir quando há suspeita de doença ocupacional
  • PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário): Comprova exposição a fatores de risco ergonômicos (movimentos repetitivos, postura inadequada)
  • Laudos médicos: Relatórios do médico do trabalho ou especialista atestando relação entre a síndrome e a atividade profissional
  • Descrição detalhada das atividades: Documento explicando os movimentos repetitivos e esforços realizados no trabalho
  • Testemunhas: Colegas de trabalho que podem confirmar as condições laborais
  • Perícia técnica: Em alguns casos, perícia de engenheiro ou ergonomista avalia as condições de trabalho

SEQUELAS PÓS-CIRURGIA: AUXÍLIO-ACIDENTE E APOSENTADORIA

Quando pedir auxílio-acidente

O auxílio-acidente é um benefício indenizatório concedido quando, após a recuperação e cessação do auxílio-doença, permanecem sequelas permanentes que reduzem a capacidade de trabalho. Na síndrome do túnel do carpo, situações que podem gerar direito ao auxílio-acidente:

  • Perda parcial de força na mão: Dificuldade permanente para segurar objetos, fazer movimentos finos
  • Perda de sensibilidade: Dormência residual nos dedos que não se recuperou
  • Dor crônica: Dor persistente mesmo após cirurgia e fisioterapia
  • Rigidez articular: Limitação de movimento do punho e dedos
  • Cicatriz dolorosa: Aderências que causam desconforto ao usar a mão

Valor: 50% do salário de benefício
Acumulação: Pode acumular com salário (se voltar a trabalhar) e com aposentadoria por idade/tempo de contribuição
Não acumula: Com aposentadoria por invalidez

Aposentadoria por incapacidade permanente

Nos casos extremos e raros em que a cirurgia e tratamentos não restabelecem a capacidade de trabalho de forma alguma, pode-se pleitear aposentadoria por incapacidade permanente (antiga aposentadoria por invalidez). Requisitos:

  • Incapacidade total e permanente: Comprovada por perícia médica do INSS
  • Impossibilidade de reabilitação: Sem chance de retorno ao trabalho em qualquer função
  • Carência: 12 contribuições (dispensada se for acidentário)
  • Qualidade de segurado: Mantida durante o afastamento

Situações que podem levar à aposentadoria por invalidez: Complicações graves (síndrome dolorosa complexa regional), múltiplas cirurgias sem sucesso, perda total da função da mão, comorbidades associadas (diabetes grave, problemas neurológicos).

EXEMPLOS PRÁTICOS

Exemplo 1: Operadora de caixa - recuperação em 8 semanas

Perfil: Mulher, 38 anos, operadora de caixa de supermercado há 10 anos. Síndrome do túnel do carpo bilateral, mais grave na mão direita (dominante).

Cirurgia: Descompressão do nervo mediano por técnica endoscópica na mão direita.

Afastamento: Solicitou auxílio-doença (B-91, reconhecido como ocupacional devido aos movimentos repetitivos). Afastada por 8 semanas (2 meses).

Retorno: Retornou gradualmente em função adaptada (alternância entre caixa e outras atividades menos repetitivas, pausas regulares, uso de órtese). Mantém estabilidade de 12 meses.

Exemplo 2: Mecânico - recuperação prolongada de 4 meses

Perfil: Homem, 52 anos, mecânico de automóveis. Trabalho exige força manual intensa, uso de ferramentas vibratórias e movimentos repetitivos com os punhos.

Cirurgia: Descompressão do nervo mediano por técnica aberta na mão direita. Complicação pós-operatória: rigidez e aderências cicatriciais.

Afastamento: Benefício B-31 inicial (não reconhecido como ocupacional pelo INSS). Afastamento total por 4 meses, com fisioterapia intensiva.

Resultado: Com ajuda de advogado, conseguiu converter para B-91 apresentando PPP e laudo de médico do trabalho comprovando nexo causal. Retornou ao trabalho com restrições (sem uso de ferramentas vibratórias pesadas). Concedido auxílio-acidente (50%) devido à perda parcial de força residual.

PERGUNTAS FREQUENTES (FAQ)

Qual o tempo mínimo de afastamento após cirurgia do túnel do carpo?

Depende do caso e da função exercida. Para atividades leves, muitos retornos ocorrem entre 4 a 6 semanas. Para trabalho que exige força manual, movimentos repetitivos ou uso intenso dos punhos, pode ultrapassar 2 a 3 meses, chegando até 5 a 7 meses em casos com complicações.

Preciso ter 12 contribuições para pedir auxílio após cirurgia?

Sim, em regra o benefício exige carência de 12 contribuições mensais. Exceção: se a síndrome do túnel do carpo for reconhecida como doença ocupacional ou acidente de trabalho, a carência é dispensada.

Cirurgia garante afastamento automático do INSS?

Não. É preciso comprovar incapacidade temporária no período (que exceda 15 dias consecutivos) e passar por perícia médica do INSS. A cirurgia por si só não garante o benefício — é necessário demonstrar que você está incapaz de trabalhar durante a recuperação.

Posso ter estabilidade no emprego se for caso acidentário?

Sim. Se reconhecido como B-91 (doença ocupacional), você tem direito à estabilidade de 12 meses após o retorno ao trabalho, conforme artigo 118 da Lei 8.213/91. A empresa não pode demitir sem justa causa durante esse período.

Quando solicitar auxílio-acidente?

Após a cessação do auxílio-doença (alta médica), se restarem sequelas permanentes que reduzam sua capacidade de trabalho (perda de força, sensibilidade, dor crônica), você pode solicitar auxílio-acidente como indenização. Esse benefício é vitalício e pode acumular com salário.

O que fazer se o INSS negar o benefício?

Apresente recurso administrativo em até 30 dias, com documentação médica mais completa (laudos detalhados, exames atualizados, relatórios de especialistas). Se o recurso for negado, procure advogado previdenciário para ingressar com ação judicial. A perícia judicial costuma ser mais criteriosa.

PRINCIPAIS PONTOS / CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

Tempo médio: 1 a 3 meses

O afastamento médio após cirurgia varia entre 1 a 3 meses, podendo se estender para 5 a 7 meses em trabalhos pesados.

Função exercida é determinante

Trabalhos com esforço repetitivo, força manual ou uso intenso dos punhos exigem tempo maior de recuperação.

Comprovação é essencial

Para requerer benefício, precisa comprovar incapacidade com laudos, exames e passar por perícia do INSS.

B-91 garante estabilidade

Se a condição for ocupacional (B-91), você tem direito a 12 meses de estabilidade no emprego após retorno.

Sequelas geram auxílio-acidente

Se restarem sequelas permanentes após recuperação, auxílio-acidente (50%) ou aposentadoria podem ser considerados.

Orientação especializada

Em caso de negativa do INSS, busque advogado previdenciário para recurso ou ação judicial.

CONCLUSÃO E CHAMADA PARA AÇÃO

A cirurgia de túnel do carpo pode exigir tempo de afastamento considerável, especialmente para quem exerce atividades que demandam uso intenso das mãos. O período médio varia entre 1 a 3 meses, podendo se estender dependendo da gravidade, complicações e tipo de trabalho exercido.

O INSS pode conceder auxílio-doença a partir do 16º dia de afastamento, desde que a incapacidade seja comprovada por laudos médicos e perícia. Se houver nexo com seu trabalho, é possível requerer a modalidade acidentária (B-91), garantindo estabilidade de 12 meses no emprego. Se restarem sequelas após a recuperação, o auxílio-acidente ou até aposentadoria por incapacidade permanente podem ser alternativas.

Organize seu dossiê médico completo (laudo cirúrgico, relatórios, exames, atestados), use o Meu INSS para requerer o benefício e, se houver negativa, recorra administrativamente ou judicialmente com apoio especializado. Não deixe de buscar orientação jurídica para garantir todos os seus direitos previdenciários durante o período de recuperação.

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*Este conteúdo é informativo e não substitui avaliação médica ou jurídica individual.

Karoline Francisco Advogada