Dissolução de união estável: quais são os direitos e como funciona o processo?

A decisão de encerrar uma união estável traz impactos emocionais, jurídicos e financeiros. Se você está vivendo essa fase e não sabe direitos, deveres nem por onde começar, esta página vai guiar você passo a passo.

Dissolução de união estável - Direito de família

O QUE É UNIÃO ESTÁVEL E COMO ELA É RECONHECIDA?

Definição legal

União estável é a convivência pública, contínua, duradoura e com intenção de constituição familiar entre duas pessoas. Ela não exige contrato formal para existir — basta que a relação tenha características semelhantes ao casamento.

Requisitos da união estável

  • Convivência pública (não oculta)
  • Duradoura e contínua
  • Objetivo de constituir família (compromisso afetivo e vida em comum)

Como comprovar que a união existia

  • Contas conjuntas, contas em nome de ambos
  • Declaração de imposto de renda constando dependente
  • Comprovantes de endereço, fotos, mensagens, testemunhas

DIREITOS NA DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

Partilha de bens

O regime padrão em união estável é o de comunhão parcial de bens: se não houver pacto antenupcial, os bens adquiridos durante a convivência são partilhados igualmente, salvo bens particulares (herança, doação com cláusula). Isso inclui imóveis, veículos, contas, investimentos. Cada parte deve demonstrar o que possui.

Pensão compensatória / alimentos entre ex-companheiros

Em casos excepcionais, pode haver pedido de pensão compensatória — um valor que apoie a parte economicamente vulnerável na transição. Também, se houver filhos, há pensão alimentícia para eles, independente da dissolução. A pensão entre ex-companheiros é raríssima e depende de situação excepcional comprovada.

Guarda dos filhos e visitas

Se houver filhos menores, a guarda e os regimes de convivência devem ser definidos logo na dissolução ou por ação específica, priorizando o melhor interesse da criança. Pode haver guarda compartilhada, unilateral ou híbrida.

Moradia familiar

Até decisão definitiva, a parte vulnerável pode pleitear direito ao uso da residência familiar, especialmente se os filhos permanecerem com essa parte, evitando deslocamentos abruptos enquanto o processo não se resolve.

FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

Extrajudicial (em cartório)

Se não houver litígio (divisão de bens e guarda acordadas), pode-se dissolver em cartório, com escritura pública. Isso é mais rápido, barato e menos traumático.

Judicial consensual

Quando há consenso, mas precisam homologar judicialmente — especialmente se houver menores, pensão, imóvel —, pode-se ingressar com ação de dissolução consensual. Juiz homologará o que for combinado.

Judicial litigioso

Se não há acordo, a ação de dissolução será litigiosa. O juiz vai decidir divisão de bens, guarda, pensão, moradia etc. Esse processo costuma ser mais longo e exige prova (documentos, testemunhas).

ETAPAS DO PROCESSO JUDICIAL DE DISSOLUÇÃO

Passo a passo típico

  1. Protocolo da petição inicial (dissolução de união estável) com pedido de partilha, guarda, pensão, etc.
  2. Citação do outro (ex-companheiro) para responder.
  3. Fase de instrução: produção de provas (documentos, testemunhas, perícias se for o caso).
  4. Audiência de conciliação / mediação para tentar acordo.
  5. Decisão judicial homologatória do acordo ou sentença com determinação dos direitos.
  6. Registro da sentença ou escritura junto aos órgãos competentes (registro de imóveis, cartório de registro civil, etc.).

CUSTOS, PRAZOS E DOCUMENTOS EXIGIDOS

Custos

Na via extrajudicial, os custos incluem emolumentos de cartório e possível escritura. Na via judicial, há taxas judiciais e honorários (em muitos casos, a parte mais vulnerável usa defensor público, sem custos). Provas documentais podem implicar gastos (certidões, laudos, perícias).

Prazos

O tempo varia conforme complexidade. Na via extrajudicial, pode levar semanas. Na via judicial consensual, alguns meses. Quando litigioso, dependendo do Tribunal e volume de processos, pode demorar mais de um ano.

Documentos comuns exigidos

  • Documentos pessoais (RG, CPF, certidão de nascimento).
  • Comprovantes de residência atual e durante a convivência.
  • Documentos dos bens (escrituras, certidões, contratos).
  • Extratos bancários conjuntos ou individuais, declaração de IR.
  • Provas da união: contas conjuntas, declaração de dependente, testemunhas, fotos.
  • Se houver filhos, certidão de nascimento dos filhos.

O PAPEL DA MEDIAÇÃO E DO DIÁLOGO

Evitando conflitos desnecessários

Muitos conflitos podem ser evitados com diálogo estruturado e mediação. Um mediador pode ajudar os ex-parceiros a dividir bens, definir guarda e acordos de pensão com menos desgaste emocional. A mediação exige que ambos se disponham a negociar com bom senso.

Dicas práticas para atravessar o processo

  • Guarde tudo: comprovantes, fotos, extratos, contratos e documentos.
  • Se possível, registre o acordo extrajudicialmente — isso agiliza e evita litígios futuros.
  • Se houver menor envolvido, priorize acordos que favoreçam estabilidade para a criança.
  • Procure orientação jurídica (Defensoria Pública, advogados especializados em família) — muitas oferecem consultas gratuitas.
  • Prefira mediação antes de litígio, especialmente para evitar desgaste emocional e custos.

SITUAÇÕES ESPECIAIS E MITOS COMUNS

União estável e casamento simultâneo

Se um dos parceiros casa, não elimina automaticamente a união estável anterior: é preciso dissolução expressa. Muitas confusões ocorrem por acreditar que "casar resolve tudo".

Bens anteriores à união

Bens adquiridos antes da união ou recebidos por herança/doação com cláusula de exclusão geralmente são bens particulares e não se partilham.

Dívidas contraídas durante a união

Dívidas necessárias ao sustento comum (financiamento, empréstimos feitos para pagamento de bens comuns) podem ser consideradas no rateio, mas a divisão depende da comprovação da origem.

Pensão entre ex-companheiros

O fim da união não implica automaticamente no pagamento de pensão entre ex-companheiros. A pensão "entre companheiros" só se aplica em casos extremos (vulnerabilidade extrema), não sendo regra automática. Já a pensão para filhos é obrigação clara e inegociável.

PERGUNTAS FREQUENTES

Preciso de advogado para dissolver união estável?

É possível usar a Defensoria Pública, se você tiver direito. Para acordos simples, pode-se fazer extrajudicialmente. Em casos litigiosos, é altamente recomendável assistência jurídica.

Quanto tempo demora para dissolver judicialmente?

Depende do grau de conflito e do volume de processos no tribunal da sua cidade. Pode levar meses a mais de um ano em casos complexos.

A união estável precisa estar registrada em cartório?

Não precisa estar formalizada para existir. Porém, ter contrato ou escritura pode facilitar comprovação de direitos na dissolução.

Posso pedir pensão do ex-parceiro após a dissolução?

Pensão entre ex-companheiros só se aplica em casos de vulnerabilidade comprovada, mas a pensão para filhos é direito legítimo e deve ser mantida após a dissolução.

Se ele mudar de cidade, posso perder direitos?

A mudança de domicílio do ex-parceiro não extingue a obrigação. A ação pode tramitar no fórum da criança ou do domicílio da parte que pede.

Como funciona a divisão de bens em união estável?

Bens adquiridos durante a união (comunhão parcial) são divididos meio a meio, salvo bens particulares. Dívidas comuns também entram no cálculo.

CONCLUSÃO

Dissolver uma união estável envolve decisões jurídicas, patrimoniais e afetivas. Saber seus direitos — partilha de bens, pensão, guarda e moradia — e entender os caminhos possíveis (acordo, extrajudicial, judicial) ajuda você a atravessar esse processo com mais segurança.

Com documentação organizada, diálogo e respaldo legal, é possível concluir a dissolução com menor conflito e mais garantia de que cada pessoa sairá com dignidade.

Se estiver passando por isso, vale buscar ajuda profissional para planejamento estratégico do processo e proteção dos seus direitos.

PRECISA DE AJUDA COM DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL?

*Este conteúdo é informativo e não substitui avaliação jurídica individual.

Karoline Francisco Advogada